Eram quase duas da manhã. Lá fora o vento uivava e as nuvens cobriam a lua de uma forma sombria. Sombria no sentido em que, como o céu estava enublado, estava escuro como breu… Caramba, isto é um blog com aspirações a ser semi-pseudo-porno, não ando para aqui a escrever histórias de terror. A verdade é que o vento nem sequer uivava assim muito. Vá lá.. assobiava um bocadito de vez em quando…Coisa pouca.
E disse a Madalena:h
-Estou toda moída… mesmo.
Emergi da pilha de cobertores.
- Estás moída porquê? O que é que andaste a fazer?
-Fiquei por cima desta vez…
Abanei a cabeça para desentupir melhor os ouvidos. Não devia ter percebido bem…
-Ficaste por cima do quê?
-Mas deste em pudica agora, foi? De que é que eu haveria de ter ficado em cima?
-Pronto, outra pessoa qualquer e eu ia partir logo para a badalhoquice, mas tu não costumas falar muito de.. da.. da tua vida amorosa.
Ela endireitou-se no sofá, um emaranhado de camisolas e casacos 2 números acima do dela.
-Não costumo falar porque quando lá ia a baixo o tempo era curto para todas as coscuvilhices, não ia perder tempo a falar dos gajos com quem me tinha andado a enrolar na semana anterior… agora estás aqui, já há tempo de sobra, já podes aturar os pormenores escabrosos.
Ah… os pormenores escabrosos.. será que eu queria saber dos pormenores escabrosos? Claro que sim, porque não haveria eu de querer os pormenores escabrosos. Venham eles. Será que eu consigo arranjar maneiras de escrever mais umas quantas vezes “pormenores escabrosos”?
-Ok… pronto. Venham os pormenores escabrosos!
- Sabes, os minis chamam-se minis por uma razão válida. É o menino dos meus olhos, mas por dentro é mesmo pequeno, não dá para grandes amassos. Estava eu e o Tiago no meio do nada quando me deram uns apetites.. deve ter sido de ver as vaquinhas a pastar ou algo igualmente poético. Páro o carro, viro-me para ele e disse-lhe “hoje estás com sorte”.
Parou uns segundos, ajeitou-se e continuou com um ar quase malandro.
- É uma coisa que eu gosto nos gajos… falamos-lhes em sexo e eles nem perguntam nem quando nem como, ficam logo com aquele ar de cão à espera de doce. É muito conveniente. Ora eu tenho andado cansada, não tenho dormido muito bem e não estava numa de ter muito trabalho, Apetecia-me assim… uma rapidinha de perna aberta. Eu sei que isto parece porco, mas era mesmo o que eu estava à procura. Dentro do carro não dava, eu já tentei uma vez e não correu nada bem, ia partindo um vidro… Saio cá para fora e verifico que o chão estava todo molhado. Tu estás a ver-me a sujar a roupa toda na lama?
-Devias ter levado a carrinha, já não te faltava espaço.
-Qual carrinha. Deita-se o gajo no chão e pronto! Lá se foram os meus planos. Fiquei por cima, sequinha e limpinha… mas agora doem-me as bochechas do rabo.
- Então e o rapaz?
-O rapaz foi o caminho de volta a pensar que raio de desculpa ia dar no escritório por levar as costas todas enlameadas.
-Então, vestia o casaco por cima.
-O casaco? O casaco ainda estava pior. O casaco ficou dobradinho a servir de mantinha, eu não ia meter os joelhos no chão molhado.
A lareira estava a esmorecer, por isso saí do emaranhado de cobertores e atirei mais dois pedaços de madeira para o lume.
-Eu devia aprender a ser mais assim. Mais “anda cá e fazes o que eu quero ou dás meia volta e vais para casa”. Pelo menos não me calhavam atadinhos como o João…
- Então e cá por cima? Ainda não andas de olho em ninguém? Não há mouro na costa? Amigos coloridos? Quecas ocasionais?
Disse que não com a cabeça e voltei a sentar-me.
-Não acredito.. e o Cardoso ainda não te convenceu a alinhares num blind date com um dos milhentos gajos do seu caderninho de telefones?
- Oh Madalena… os gajos do caderninho do Cardoso não querem nada com meninas, pá.
-Ah.. isso julgas tu! O Cardoso conhece gente! O Cardoso conhece muita gente e gente para todos os gostos. Aliás, se ele fechasse o escritório e abrisse uma agência de dating ficava rico. Só tens de lhe dar as características que queres e garanto-te que ele arranja. E se for preciso arranja mais que um, é logo uma mão cheia.
Mas a rapariga está doidinha de todo? Então ela acha que eu vou pedir serviços de administração de acompanhantes ao meu patrão? Sabem o que é que ela me perguntou quando lhe disse isto?
- Tens vergonha?
- Não! … Sim…
-Queres que eu lhe peça?
- Não!
-Esse é um não mas que na realidade significa que não ficas chateada se eu for por trás das tuas costas e lhe pedir na mesma?
-Sim…
-És uma corajosa.
Eu sei, eu sei. É verdade, eu sou um rato, um reles rato. E ser um reles rato deu-me fome, por isso passámos a conversa para a cozinha.
-Tens passado tanto tempo fechada em casa. Só sais à rua para ir trabalhar e comprar porcarias que nós não devíamos andar a comer… - disse a Madalena enquanto enchia a boca de marshmellows.- Tenho de arranjar maneira de te meter fora de casa.
-Já estás farta de mim, é?
- Oh parva.. Achas? Às vezes nem dou por ti, tens passado a maior parte do tempo fechada no quarto. Até ando preocupada… que não te estivesses a dar bem por cá. Andas fugida.
Ora.. eu não ando fugida! Eu só ando cuidadosamente a evitar situações eventualmente perigosas!
- Quase todos os dias te melgo à lareira.
- É por isso que eu a acendo, como engodo para te fazer sair do quarto. Então estás bem?
-Sim – bom, isto é quase verdade.
-Não tens saudades de casa?
-Não – tirando as saudades de tomar banho numa banheira sem receios de ser interrompida por uma gaja que me entra sonhos a dentro para actividades muito pouco próprias.
-Não te faz confusão, depois de viveres sozinha, viver com uma gaja?
- Não – especialmente se não tiver de ver a dita gaja em roupa interior, toalha de banho, completamente nua ou com aquela camisola azul que lhe fica lindamente… não me faz confusão nenhuma.
-Boa.
Boa… e já eram quase quatro da manhã quando fomos para a cama.
…
Cada uma para a sua, oh vozes hiper-activas da minha cabeça.