-Trazes-me uma toalha? - a voz soou bastante mais distante do que o andar de cima, mas nem pensei duas vezes. Subi a escada, fui ao armário e tirei um toalhão grande, azulão.
A casa de banho estava cheia de vapor, quase não se via nada e ainda tive de andar ás apalpadelas para encontrar o lava-mãos para deixar a toalha.
-Não vais tomar banho? - perguntou ela atrás de mim, quando acenei que sim com a cabeça continuou num tom de voz ligeiro – Então porque é que só trouxeste uma toalha?
Virei-me e dei de caras com uma Madalena muito despida a entrar para a banheira. Fiquei parada alguns segundos com uma sensação de dejá vu até que me apercebi que continuava a olhar para ela e deixei cair os olhos no chão.
Ela pareceu não ter notado e mergulhou-se na água quente até ao pescoço. Estendeu a mão e perguntou com ar intrigado “então, não vens?”.
Ahhh.... eu já estava a estranhar a falta de sonhos pseudo-porno com a rapariga.... Até cheguei a pensar que agora que estavamow a viver na mesma casa que o meu subconsciente tinha resolvido as problemáticas que tinha e seguido em frente. Ah! Qual era a piada disso?
-Então, não vens? - lá estava ela, a olhar para mim, à espera que eu me fosse enfiar na banheira como se fosse a coisa mais normal do mundo. E era... não fosse o meu olhar insistir em cair um pouco abaixo do pescoço da moça, não fossem as minhas bochechas estarem a ficar vermelhas e o meu coração ter começado a bater com uma força desmedida e uma vozinha na minha cabeça se deliciar em lembrar-me quão bonita eu a achava. E ela a olhar para mim, à espera.
Respirei fundo, decidida a ignorar aquelas palermices e despi-me rapidamente. A água estava um pouco mais quente do que a temperatura a que eu estava habituada e fiquei aliviada porque tinha a desculpa perfeita para o rosado intenso das minhas bochechas.
Sentei-me na banheira com muito cuidado para não tocar na gaja nua que já la estava mas era praticamente impossível... a banheira não era assim tão grande e acabei por ficar mesmo encostadinha a ela.
Que parvoíce, vê lá se te comportas, Ana Maria. Mas deu-te agora para isto, foi? Sim, é a Madalena na banheira contigo, e então? Não tomaste já dezenas de vezes banho com a tua irmã? É a mesma coisa, estás aí toda envergonhada para quê....
- Estás bem? - o meu monologo interno foi interrompido por uma voz preocupada.... por uma voz preocupada a escassos centímetros da minha cara e a aproximar-se cada vez mais... oh santa pipoquinha, o que é que ela está a fazer???
- Estás tão vermelhinha, estás com febre? - perguntou ela encostando a sua testa à minha.
Qualquer resposta que lhe podia ter dado ficou caladinha em mim quando dei por mim a inclinar a cabeça e a pousar os meus lábios nos dela.
Alerta vermelho, alerta vermelho. Anita.. o que é que tu acabaste de fazer??? Rápido, inventa uma desculpa qualquer, finge um ataque de epilepsia, espuma da boca... qualquer coisa!
Abri os olhos à espera de ver uma Madalena confusa, zangada até mas o que vi foi um sorriso malandro. Tentei dizer alguma coisa mas ela inclinou-se para a frente e deu-me um beijo longo e quente e.... bom, bom, bom.
A sensação de ter o seu corpo completamente nu encostado ao meu era electrizante. Estava consciente de cada centímetro de pele, de todos os seus movimentos. Quando os beijos passaram para o meu pescoço arrepiei-me com cada uma das suas respirações e todas as vozes da minha cabeça se calaram para apreciar melhor o momento.
Perdi-me nas suas carícias e enchi-a de beijos sem medo.
Foi com muito mau feitio que desliguei o despertador que me arrancou do quentinho do meu sonho.
Eram sete horas e era o meu primeiro dia no meu novo trabalho.
Espreguicei-me e ri-me de mim própria e das problemáticas que tenho enquanto durmo. Tenho cada sonho mais escaganifobético... enfim...
Upa, toca a levantar para vestir e arranjar tudo com calma e sem stresses.
A roupa já estava escolhida de véspera e a malinha preparada.
Saí do quarto pé-ante-pé tentando não fazer barulho nenhum para não acordar a Madalena que ainda devia dormir a sono solto no piso de cima.... ia-me caindo o coração aos pés quando a vi na cozinha, a encher duas chávenas de chá.
-Isto é como o primeiro dia de escola, tinha de ver se tomavas o pequeno almoço como deve de ser e se ias bem arranjadinha – disse ela, sorridente de mais para as sete e meia da manhã.
Era demasiado cedo, eu ainda estava demasiado ensonada e o cérebro ainda não tinha acordado completamente do sonho que estava a ter... dei por mim a corar e a gaguejar qualquer coisa sobre ter de ir lavar a cara.
Voltei 10 minutos depois, já penteadinha e compostinha e tomei o pequeno almoço com ela.
Saí de casa com a estranha sensação de ter sido apanhada a mexer no pote das bolachas....
Há 1 ano
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