Insónias. Sabem o que são?
São aquelas nossas amigas que decidem fazer-nos companhia enquanto a nossa cabeça se diverte a martirizar-nos com listas de coisas pendentes para fazer e com replays de pequenas catástrofes do dia-a-dia.
Apesar de estar um frio, como dizia a minha avó, de arrepiar os cabelos do cu (imagem linda, não é?) levantei-me da cama, enrolei-me em duas mantas e decidi ir beber chá quente para a varanda. Uma qualquer noção romantica fez-me acreditar que a luz da lua e das estrelas me iam ajudar a chamar o sono.
A tartaruga olhou para mim desconfiada quando me sentei na cadeira que estava mais perto da sua casota. Vi-lhe no olhinho verde o ar de desdém, juro! Como se estivesse a rir-se de mim por me ver ali na rua áquela hora.
A lua estava encoberta e estrelas não se viam muitas, mas houve outra luz que me despertou a atenção.
Não estava sozinha na minha deambulação nocturna. Do outro lado da vedação estava uma luz acesa na casa do vizinho.
A janela iluminada sem cortinas permitia ver todo o interior do quarto. Tinha uma decoração muito simples, de onde eu estava parecia que apenas tinha uma cama e um armário numa parede de cor creme.
Segundo dizem as más línguas (ai que às vezes nós somos tão cuscas) é um senhor dos seus 35 anos que se divorciou há uns 7 e que desde aí vive sozinho. Deve ser difícil viver sozinho numa casa assim tão grande.
Quer dizer, a Madalena também tinha este casarão todo para ela, mas a moça quase só cá mete os pés para dormir...
Estava eu nestas divagações quando entra o vizinho no quarto. Senta-se na cama e aponta para a parede da frente onde, presumi eu, deverá ter uma televisão. Tirou os sapatos e levantou-se, desaparecendo novamente.
Voltou minutos mais tarde, vestido com um fato de treino e voltou a sentar-se na cama.
“Eu devia fazer o mesmo” -pensei eu para com os meus botões enquanto me preparava para dar corda aos sapatos e ir para o quarto.
Ah... mas eis senão quando, enquanto eu me levantava da cadeira, pelo cantinho do olho algo prendeu a minha atenção.
O vizinho tinha-se deitado para trás, ainda por cima da roupa da cama e estava com uma mão enfiada nas calças num movimento que eu reconheci imediatamente.
Levantei-me num ápice, ainda fiquei com as mantas presas na cadeira e ia-me estatelando no chão, mas assim que me libertei fugi para dentro de casa com medo que ele olhasse pela janela e (com os seus binóculos nocturnos, só podia) me conseguisse ver.
Larguei as mantas no sofá e fui-me empoleirar à janela. Sim... eu sou dessas... apontem-me lá o dedo a ver se eu me importo!
O vizinho continuava com a mão enfiada nas calças, mas tinha-se sentado novamente e olhava para a televisão. Será que estava a ver porno? Ou era daqueles homens que consegue bater uma a ver o jornal das oito?
Bom, o que quer que seja que estava a ver devia ser bom porque baixou as calças e começou a mexer a mão mais rapidamente.
As casas ainda ficam longe uma da outra.. não consegui averiguar se o rapaz era avantajado ou não...
Já não lhe interessava o que se passava na televisão, tinha a cabeça inclinada para trás e movimentava a mão num ritmo significativamente mais lento mas que me parecia mais intenso.
Deitou-se outra vez para trás e ficou com a mão quieta enquanto levantava as ancas da cama, já com as calcas pelos joelhos. De repente deixou-se cair na cama e voltou a mexer a mão rapidamente até que parou completamente.
Pronto, serviço feito.
Abençoadinhos, aquilo funciona de forma tão eficaz. É um instante.
Desci as escadas e vim para o quarto e agora estou aqui sentada a olhar para a cama e a pensar de mim para mim que o vizinho me deu uma boa ideia de uma forma relativamente eficaz e prazeirosa de dizer adeus à insónia.
Há 6 anos