sexta-feira, 29 de maio de 2009

1st Date

Ficou combinado para as sete e meia. Íamos jantar e dar um passeio, conversar mais um bocadinho que também não nos podíamos esticar muito que no dia a seguir era dia de trabalho.
Foi pontual, cumprimentou-me com dois beijinhos, cheirava bem e abriu-me a porta do carro.
O jantar foi pizza e a conversa fluiu a um bom ritmo, mas não ficámos muito tempo no restaurante porque estava algum barulho e… no outro dia era dia de trabalho.
Fomos dar um passeio o pé, mas o passeio foi curto porque estava frio e… no outro dia era dia de trabalho.
Como estávamos a meio de um tema interessante fomos dar uma volta antes de me ir levar a casa… mas a volta tinha de ser pequena porque… no outro dia era dia de trabalho.
E quando chegámos à porta de minha casa eu estive mesmo, mesmo para sair do carro umas 5 vezes porque era tarde e no outro dia era dia de trabalho.
Resumindo e concluindo, já passavam das três da manhã quando, após 4 horas de conversa estacionados em frente ao portão, nós nos despedimos de vez.
Acompanhou-me à porta e deu-me um beijo na bochecha, apenas uma fracção de segundo mais demorado que um “então adeuzinho, hein” normal.
Eu fiz ar de cachorrinho, virei a outra bochecha e perguntei “então e o outro?”.
- O outro fica para a próxima vez – diz-me ele com um sorriso mal disfarçado.
Olha, olha… eu ali, tão voluntariosa e ele a fazer-se difícil. Ora, mudei logo o ar de cachorrinho para ar de gata assanhada e entrei em casa com um “se houver próxima” atirado para trás das costas.
Foi com o orgulho um bocado ferido que peguei no telemóvel mais tarde para ler a mensagem que me mandou.
“Já cheguei a casa. Gostei muito do jantar e da conversa. Boa noite. Vai mandando notícias.”
E foi com o orgulho ainda mal sarado que mandei a resposta:
“Notícias:
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s”
Mas depois veio o sushi…

sábado, 16 de maio de 2009

Com os sapatos cheios de areia

-Mas cheio mesmo! Porque é que não me disseste que vínhamos para a praia? - protestei eu enquanto saltitava ao pé coxinho num esforço para descalçar o sapatinho de salto alto que se enterrava no areal.
-Se eu te tivesse dito não te tinha conseguido arrancar de casa.
Pronto, era provável, mas um aviso acerca da roupa apropriada tinha sido cortês.
Ali estava eu, no meio da praia, de sapatinhos na mão, saia que era demasiado flutuante para aquela maresia ventosa e sem protector solar.
A Madalena lá foi à sua vida, de máquina fotográfica em punho em direcção ao bando de masoquistas que chapinhavam contentes da vida na água que devia estar gelada. Devo dizer que lhes admirei o gosto pelo desporto mas não lhes invejei a sorte.
Olhei para um lado, olhei para o outro e decidi ir sentar-me à sombra de uma prancha. Ficava resguardada do vento e do sol e de areia já estava eu cheia, de qualquer forma.
Tirei o livro da mala (sempre, sempre um livro na mala.. poupa tanta seca) e enfiei o nariz na história.
Já estava eu completamente perdida no caminho de comboio entre Alemanha e a França e a fazer figas para a rapariga não ser apanhada pelo tipo que andava a revistar as carruagens quando de repente me foge a sombra e o suporte.
Olho indignada para o sitio onde era suposto estar a prancha e deparo-me com um par de pernas... olho um bocadinho mais para cima e lá estava o resto. E o resto era um rapaz a olhar para mim com uns olhos muito surpreendidos.
-Desculpa, não reparei que estavas aí atrás.
Aparentemente era o dono da prancha... Oops! Se calhar não é suposto pessoas encostarem-se à prancha alheia... se calhar é como com os carros, quando chegamos ao pé do nosso e está lá alguém encostado na amena cavaqueira fazemos aqueles olhos de "tira a mão sebenta de cima do meu rodinhas JÁ!".
Levantei-me num pulo para pedir desculpa mas, sendo eu aquilo correu-me mal, o pé enterrou-se-me areia dentro, perdi o equilíbrio e ... olhem e tinha-me estatelado ali mesmo não fosse o tipo ter-me agarrado no braço.
Até podia ter sido cinematográfico, com o cavalheiro a salvar a donzela de uma queda aparatosa, mas não foi. Foi patético e ridículo, não vale a pena disfarçar.
Lá expliquei meio atabalhoadamente (ai que eu nestas situações sou tão eloquente) que estava sol e eu não tinha chapéu e o vento e que me sentei e que achava que não fazia mal e que fazia sombra e que, e que... Estão a ver?
-Vamos ali beber um sumo e depois podes ficar sentada na esplanada à sombra sem te chatearem. - Hum... aquilo era um convite ou era um "arranja outro pouso onde não estorves"?
Foi mais ou menos nesta altura que eu decidi olhar para o rapaz com olhos de ver em vez de estar de olhos colados à areia.
Era moreno, tinha os cabelos revoltos ainda cheios de pingos de mar, olhos escuros e quentes e uns ombros definidos que continuavam nuns bracinhos daqueles que a Aninhas gosta. Era muito jeitosinho. Mesmo muito.
Lá fui eu, beber um sumo (pelo menos não disse "vamos beber um café"... ).
Sentámo-nos e fiquei a saber que se chamava Rodrigo, que tinha 29 anos e que tinha pisado um peixe aranha uma vez quando era miúdo. Que vivia em Vila Nova de Gaia e que o sonho dele era ter uma casa na praia. Que há um site na net que mostra a imagem de várias câmaras em várias praias e que partiu duas vezes o braço no mesmo sítio a fazer a mesma coisa.
Basicamente foi uma daquelas conversas aleatórias em que um assunto puxa o outro e já não sabemos muito bem como é que ali fomos parar mas queremos saber mais.
Fiquei também a saber que era um cavalheiro porque quando me ia levantar para pagar o meu sumo levei com um soturno "nada disso!". Vá digam o que disserem, power às mulheres e isso tudo, mas nós ficamos derretidas quando nos fazem isso.
Foi preciso a Madalena chamar-me para eu me aperceber que tinha estado na conversa quase duas horas.
Levantei-me, agradeci o sumo e a companhia e caminhei (com elevado nível de concentração para não me estatelar outra vez) até ela.
-Ana... - disse ela de mão na anca - diz-me depois de tanto paleio trazes o contacto do rapaz...
Fiquei a olhar para ela, como uma garota que acabou de ser apanhada a fazer asneira.
Vasculhou na mala, tirou um papel e uma caneta e escrevinhou qualquer coisa. Entregou-me o papel com o meu número de telefone e fez cara de má.
Eu baxei os olhos, dei meia volta e felizmente tive de andar pouco porque ele vinha na nossa direcção.
- Aparentemente, segundo a minha amiga, é falta de educação não dar o número de telefone quando nos oferecem um sumol. Se tivesse sido uma coca-cola tinha de te dar o meu primogénito e nem queiras saber o que te era devido se fosse um sumo de laranja natural.
Ele riu-se, agarrou no papel e disse que vinha com intenções de me pedir o e-mail para me enviar o tal link. Pedi a caneta à Madalena e acrescentei o blábláblá-arroba-qualquer coisa ao papelinho.
E vim-me embora sob o olhar "começa a contar tudo" da Madalena.
Estávamos a chegar ao carro quando tocou o meu telemóvel. Bem... a Madalena riu-se toda.
-É ele.
-Oh, não é nada.
-É pois, atende lá isso!
E era. Ah, e tal, estava a confirmar se percebia bem os números do papel e já agora, para não desperdiçar uma chamada telefónica, se eu não queria ir jantar no dia seguinte.
E eu disse que sim.

Com a pontinha do pé

Devagarinho, só com a pontinha do dedo grande do pé não vá a água estar muito fria.
Depois então vai o pé inteiro, talvez, com sorte.
Um chapinhar aqui e um acolá. Um pingo que chega ao joelho e arrepia.
Quando finalmente conseguimos entrar na água já são horas de ir para casa... isso não funciona para mim. Eu sou pata! E tomo balanço, corro e mergulho toda de uma vez e rio com gosto quando venho à superfície sem fôlego porque o frio me fugiu com o ar.
Também é assim por aqui, sabem?
Estive sem cá meter os pés, mas não vou voltar de mansinho. Tenho demasiadas coisas para contar, demasiadas novidades para pôr em dia!
Vamos cá ver... o meu portátil deu o berro, morreu ou foi vítima de macumba não percebi. Num dia funcionava, no outro tinha não sei o quê queimado e nem piava.
Como é óbvio em computador alheio eu não tinha lata para vir ao blog. Eu sou meio paranóica, acho que depois me vão cuscar tudo e me descobrem a careca.
Mas hoje, oh dia glorioso, hoje trouxe para casa um bichinho novinho em folha, de teclas reluzentes, de autocolantes ainda agarrados à parte de fora, de disco vazio e virgem à espera que eu o encha 1s e 0s (isto parece-me informaticamente incorrecto uma vez que eu acho que de 1s e 0s já eles vêem cheios, mas siga para bingo).
Cheguei a casa e pousei-o em cima da mesa. Olhei para ele, sem uma única mancha, sem migalhas no teclado e suspirei... que visão.
- Mas isso é para usar ou vai ficar mesmo aí a servir de centro de mesa? - perguntou do cimo das escadas a Madalena.
Ahhh.. a Madalena... Também já tinham saudades dela, não era? De mim não pergunto porque se alguém me diz que não arreganho os dentes!
As coisas andam mais calmas com a Madalena. Bom... andam mais atinadas, acho que é mais o termo. Aprendi a não me stressar toda, a não sair disparada da divisão quando ela entra e, pasmem-se, até consigo dormir com ela sem me deitar tão na pontinha do colchão que tenho de ter um pé no chão para não cair. Ainda tenho umas recaídas de vez em quando mas já não me sinto desenho animado japonês a quem espicha o sangue pelo nariz cada vez que vê as cuequinha a uma menina a quem o vento levantou a saia.
Acho que ajuda ter para onde desviar as minhas energias.
Oh sim, meus senhores e senhoras... a Anocas tem para onde desviar as energias.
Prometo contar tudo na próxima posta de pescada... agora vou cuscar os vossos blogs que ando cheia de curiosidade para saber o que se passa por aí!