terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Amor, apaga a luz

Dizia-me a Andreia ontem que isto de andar a rebolar pelos lençóis às claras é muito bonito, mas depois alguém tem de se levantar e ir apagar a luz. Queria ela dizer que o romantismo e a espontaneidade não são nada práticas e que por vezes as consequenciais de uma noite romântica com 100 velas acesas e chocolate lambido da barriguinha do respectivo mais que tudo são demasiado trabalhosas.
Penso que é por isso que tantos casais caem na rotina de sexo de sábado à noite, na cama, de luzes apagadas... dá menos trabalho. Compreendo que depois de um dia inteiro de trabalho a ideia de ter de andar a limpar cera de velas das mesas e bancadas todas da casa seja o suficiente para tirar a vontade toda e mandar qualquer um directo para o sofá para a frente da televisão.
Compreendo... mas não consigo aceitar que não hajam casais que consigam fazer esse esforço extra...
Afinal é essa a diferença, não é? Entre um casalinho que está junto à 3 semanas e um que está junto há três anos.
No inicio tudo vale a pena... levantamo-nos de madrugada para preparar aquela surpresa especial, rapamos um frio desgraçado para estar à espera com aquela lingerie sexy quando chegam a casa, passamos duas horas a esfregar a alcatifa porque os morangos com natas comidos no chão à lareira acabaram por pingar tudo e andamos felizes da vida assim, porque estamos apaixonados.
O que muda?
Porque é que na maior parte dos relacionamentos ao fim de algum tempo desistimos? Deixamos de achar que a outra pessoa vale a pena o esforço?
Recuso-me a acreditar que todas as relações estejam condenada as este destino deprimente.
Eu acredito que há pessoas que se mantêm apaixonadas 10, 20, 30, 40 anos depois. Eu acredito que há velhinhas de 70 anos a deixarem bilhetinhos a dizer “acho as tuas rugas do pescoço extremamente sexys... e esse andarilho dá-me a volta à cabeça! Prepara essa prótese na anca que mal posso esperar que chegues a casa para te atirar para a cama!” no bolso dos seus mais-que-tudo.
Partilhei isto com o resto das galinhas hoje à hora do almoço e riram-se na minha cara. Disseram-me que este romantismo me passava com a idade.
O mestre no entanto calou o galináceo e disse, do alto da sua infinita sabedoria:
A maior parte das pessoas acomoda-se. A pessoa com quem estão já não lhes diz muito no entanto é uma companhia confortável e como encontrar melhor dá muito trabalho acabam por ficar por ali e vivem a sua vidinha bem. Não investem muito na relação porque também não se sentem valorizadas e concentram-se em outras áreas da sua vida.. a carreira, os filhos, um hobbie... e não são infelizes. Vivem contentes. A maior parte pessoas que pensam como tu vivem insatisfeitas, sempre à espera de mais, sempre à espera daquela tal pessoa que vai sempre ficar com os olhos a brilhar cada vez que te vê chegar... e a maior parte acaba por ficar sozinha e frustrada.
As outras galinhas cacarejaram em aprovação, mas ele não me deixou ficar mal:
No entanto, só quem se recusa a aceitar a mediocridade e corre o risco de dar uns grandes trambolhões e ficar com o coração nas mãos consegue aquele final de filme, o “e viveram felizes para sempre”. Eu acho que se tens pachorra para isso vale bem a pena o risco.
O meu ah-ah! triunfante foi ignorado pelo galinheiro.
Sou a galinha negra lá do sitio, pá....
Eu não me interessa...chamem-lhe romantismo, optimismo irrealista, parvoíce própria da idade... eu quero alguém que nunca se importe de se levantar para apagar a luz e que, daqui a muitos anos, eu ainda tenha vontade de beijar durante horas, com ou sem dentadura.
Dito isto e salvaguardando assim os meus planos para relacionamentos futuros...Eu ando a precisar de um amigo colorido cá para estas bandas!
A sério... ontem olhei para a minha almofada e ela rosnou-me, disse-me que estava farta de mim e mandou-me ir roçar noutro lado qualquer que ela ia tirar uns dias de férias.
Eu, que não sou uma rapariga nada orgulhosa, virei-lhe as costas numa de “ai é.. depois vem cá fazer-me olhinhos de fronha carente a ver se eu te ligo alguma coisa”, peguei na minha toalhinha e no roupão e saí do quarto decidida. Subi as escadas cheia de força e...
Oh Madalena... posso usar a banheira do teu quarto? - pronto, saiu-me... e não custou assim tanto.
Ela levantou os olhos da secretária, ajeitou os óculos e abanou afirmativamente a cabeça, como se não fosse nada com ela.
Missão comprida!
Lá foi a Aninhas, toda satisfeita para dentro e uma banheira cheia de água e espuma abundante.
Há tanto tempo que não tomava um banho... acho que tive uns três orgasmos psicológicos só de me deitar naquela aguinha quente.
Fechei os olhos durante um bocadinho e senti cada músculo (pronto.. ou aquilo que eu tenho onde as pessoas firmes e tonificadas deveriam ter músculo...) a relaxar. Deixei-me flutuar uns 20 minutos. Quase me esqueci o que me tinha impelido a requisitar aquela banheira, mas o olhar de desdém da almofada avivou-me a memória.
Ora festinha aqui, festinha ali, mãozinha aqui, dedinho ali e não tardou a sentir aquele calorzinho bom que vem de dentro e me faz ter vontade de roçar as pernas uma na outra... estava eu a meio das minhas actividades lúdicas aquáticas, extremamente entretida quando batem à porta.
O meu coração ia-me saltando do peito. Endireitei-me e gaguejei um “sim?” sumido.
Quando a Madalena abriu a porta deu-me um acesso de vergonha e voltei a mergulhar-me toda na água, desapareci entre aquela espuma toda e pedi às estrelinhas para que a minha cara não tivesse ficado vermelha que nem um tomate.
-Olha lá, desde que eu não esteja a dormir não precisas de me vir pedir se podes usar a banheira. Eu sei que tu és um pato, podes usar a banheira à vontade. Sabes onde estão as toalhas?
Estiquei um dedo para fora da espuma e apontei para a toalha que tinha trazido.
-Vou fazer pipocas e ver um filme. Vais demorar ou espero por ti?
Abanei afirmativamente a cabeça, muda.
Isso é um “sim, vou demorar” ou um “sim, espera por mim”?
Com pelo menos 3 vozes diferentes a chamarem-me nomes dentro da minha cabeça e umas 5 a dizerem-me “oh santa pipoca, fala, mulher!” lá disse que não ia demorar.
Passei-me por água, vesti-me e quando desci para o andar de baixo ainda tinha o coração a bater com força.
Nota mental... banhos na banheira sim.... actividades lúdicas aquáticas só quando estiver sozinha em casa!
Tenho mesmo de arranjar um entretém que estes comportamentos aparvalhados já não têm piada nenhuma.

6 comentários:

Ervi Mendel disse...

Tenho de te arranjar mais leitores que tu mereces! Excelente post!

Ana Laranja disse...

Oh.. olha para mim a corar qual bonequinha de anime cor de rosa a quem o vento acabou de levantar a saia... :P
:)

bomamigo disse...

Olá!
Gosto de ler o teu blog, continua!
Permita que diga que para além da questão da luz, há sempre outra coisa que temos que fazer, mas como a tua descrição é tão bonita, que agora não lembro do que se trata...
Bj

Pedro disse...

oi ana!

o primeiro fenómeno que escreves no post é basicamente a rotina...

uma mulher (ou homem) de 20 ou 40 anos conseguem sempre apaixonar-se...

agora conservar "o tesão do mijo" durante muitos anos é dificil!

por isso é que tantos casais aderem a sex toys, menages, swing, etc...

há que inovar para não cair na rotina!

agora é condenável não se fazer um esforço para mudar...

e eu até posso dizer que bem que tento inovar :)

quanto ao teu episódio da banheira...

acho que fizeste tu mto bem!

para a próxima pergunta à madalena se não se quer juntar a ti... pode ser que te surpreendas com a resposta! ;)

kiss

pedro @ lancheira.com

... disse...

Fantastico, este teu post tem pano pra mangas, cada vez mais gosto de rondar o teu espaço, falas sempre de assuntos pertinentes e com muitoooooo sentido de humoooooo
Quanto ao primeiro tema, os filhos, as responsabilidades, problemas no emprego, quase sempre poem para segundo plano a relação amorosa, mas se o casal tiver a consciência que é importante para a relação momentos a dois, esses momentos especiais podem ser recriados, não tem de ser todos os fins de semana, porque isso também é uma rotina, mas deve se fazer de longe a longe para ser especial e diferente, basta ter filhos para se perder um pouco a privacidade e ter os avós por perto dá muito jeito para certas ocasiões.
Não me vou alongar mais, desculpa a invasão, e ainda fica muito por dizer, mas só mais uma coisa, fazer amor às escuras nunca, o candeeiro da mesinha de cabeceira coberto com um pano ou colocado debaixo da cama dá uma luz fantastica para fazer amor e é mais facil de apagar nem precisa de sair da cama

S. disse...

Delicioso texto. As banheiras têm, de facto, um não sei quê que despertam desejos incontidos, quer sejam banhos solitários, quer sejam banhos a dois. Nada melhor do que ficar assim numa banheira perdendo a noção do tempo com actividades subaquáticas e de mergulho em profundidade. :)
Quanto à rotina, esse perigo existe e tem de haver um esforço grande para inovar numa relação a médio ou longo prazo. Nem sempre é fácil, mas vale a pena tentar.
Beijos