terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Oh universo

Como sempre arranjaste uma forma de agraciar o meu dia com o teu sentido de humor.
Chego a casa e ainda nem pousei a mala no chão já estou a ouvir um “estava a ver que nunca mais chegavas, anda cá!” vindo do andar de cima.
Larguei a chaves e a mala e subi os degraus para ver qual era a problemática.
Entro no quarto da Madalena e deparo-me com uma cama cheia de roupa. Quando eu digo cheia não me estou a referir a duas camisolas e 3 pares de calças... não... estou a falar do conteúdo do armário e das gavetas TODO em cima da cama e (ou não fosse a Madalena) organizado por cores...
Sai-me a rapariga da casa de banho, toalhinha enrolada à volta (claro, lá se esperava outra coisa) e desata a andar à volta da cama enquanto explica “afinal a reunião de amanhã é hoje e eu baralhei as datas... se não me tivessem telefonado a confirmar o sítio ia para lá amanhã feita parva... e agora o que é que eu vou vestir... tenho de ir com ar profissional e já me estou a passar com isto”.
Ah... sim, o eterno problema feminino do “eu não tenho nada para vestir!”. Calha a todas... mesmo que não sejam daquelas gajas com muitas esquisitisses vai haver um momento na vossa vida em que vão olhar para um armário a abarrotar de roupa e dizer:” mas eu não tenho nada para vestir!”.
Olhei para o monte de roupa na cama e agarrei numa camisa púrpura, numas calças pretas e num casaco preto e perguntei-lhe se lhe parecia profissional o suficiente. Ela olhou para mim como se eu tivesse descoberto peças de roupa que não estavam lá há cinco minutos atrás abanou a cabeça e pisgou-se para a casa de banho.
Deixei a roupa na pontinha da cama e sai do quarto com uma pressa fora do vulgar. Eu lá tinha as minhas desconfianças que não estava em terreno seguro. Assim que meto o pézinho do lado de fora da porta ouço um autoritário “mas onde é que tu pensas que vais? Já me escolheste os sapatos???”. Parei, virei-me devagarinho e dei de caras com uma mulher lindíssima de cabelos soltos, molhados, soutien e boxers pretos e um olhar intrigado.
Pensei de mim para mim:

“Porque é que ela está com aquele ar curioso?
Aliás, porque é que ela está com aquele ar curioso a olhar para mim?
Será, Ana Maria, que é por tu estares praticamente a babar-te a olhar para ela há uns 20 segundos? Hum? Será?
Raio da garota, mexe-te, olha para outro lado, diz alguma coisa. Mas o que é que se passa contigo?”

Abanei a cabeça tentando calar as vozinhas que corriam de uma lado para o outro em pânico na minha mente e de uma forma completamente casual (tão orgulhosa que fiquei de mim) disse-lhe : “levas os pretos, com é obvio, mas estou aqui a olhar para ti e acho que é melhor secares o cabelo, ficas logo com um ar mais atinadinho”.
Ah,ah!!! Eu não estava ali qual velho pervertido a ver a menina semi-nua! Não! Eu estava a fazer uma avaliação cuidada do penteado que ela deveria levar, pois claro. Acalmem-se vozes histéricas que aqui a Anocas resolveu a situação.
Ela fez uma careta de desagrado mas foi buscar o secador.
Mais uma vez, e desta vez ainda com mais pressa, virei-me para sair do quarto.
-Secas-me o cabelo? Não tenho jeito nenhum para isto... - pediu ela.
Ah... claro. Anda cá, oh Madalena descascada, senta-te aqui que eu vou arranjar uma qualquer forma sofisticada de te secar o cabelo enquanto analiso todos os detalhes do tecto para evitar que os meus olhos caiam onde não devem.
E lá estive eu, uns vinte minutos de secador na mão, completamente compenetrada nos cabelos quase pretos que caiam em suaves madeixas sobre os ombros delicados e... não! Olhinhos para cima, Anita!
Quando terminei o trabalho ela levantou-se, vestiu-se num ápice e fez a habitual pergunta: “estou bem?”.
Estás linda... - não podia ter sido mais sincera.
Quando ela saiu de casa há bocadinho vim para o quarto, não estava com muita vontade de ir comer sozinha.
Agora estou para aqui, ainda com aquela sensação de nervosinho miudinho, a tentar perceber quando é que eu passei dos sonhos ocasionais com uma amiga de longe para me comportar desta forma com a amiga com quem vivo.
Confesso que me está a fazer alguns curto-circuitos na minha cabeça. Quer dizer... é a Madalena! É uma menina! É uma grande trapalhada, é o que é!
Eu culpo a televisão!
Mentira.. culpo é o Bit torrent que é de lá que eu tiro as séries (cópias de segurança, senhores polícias) que decidiram todas ao mesmo tempo andar a enfiar nos guiões uma data de gajas enroladas com gajas.
Acho que vou fazer greve. Chega de Dr. House e de Grey's anatomy!
Vou-me dedicar a ver a última temporada de Supernatural... pelo menos tenho pesadelos com demónios e sombras em vez de sonhos com a miúda que vive comigo! Posso não dormir nada de jeito e achar que todos os barulhinhos são qualquer tipo de criatura maléfica pronta a desmembrar-me de uma forma dolorosa... mas com isso posso eu bem.

4 comentários:

S. disse...

Bom, eu também partilho o apartamento com uma amiga, mas nós as duas já estamos uns degraus mais à frente na intimidade do nosso relacionamento. E que bom é viver com uma amiga assim...
Beijos

Ervi Mendel disse...

Isto começa a aquecer! :)

Esplanando disse...

Então e qual é o problema?
Se te sentes atraída, força!

Pearl disse...

Olá Ana Laranja acho que nunca passei por aqui...
Já dei uma vista de olhos e gostei muito de ler-te, vou guardar-te nos favoritos e quero voltar para ler-te um pouco para trás!!

Por agora deixo-te um beijo!