domingo, 26 de outubro de 2008

1º dia

Acordei e demorei uns minutos a perceber onde estava. A janela estava do lado certo da minha cama mas a secretária estava do lado contrário e... o sofá não era suposto estar ali, pois não? E as paredes não eram desta cor...
Depois de bater com a mão na testa em jeito de “és mesmo parvinha, oh Ana, não te lembras de andares a carregar com sacos e caixas durante todo o dia de ontem?”. Quando saltei da cama as perninhas deram logo indicação que tinham melhor memória que eu... qual ginásio, qual carapuça! Mudanças, meus senhores, duas mudanças por semana e eu andava ali na linha!
Ignorei os músculos doridos e abri a porta. No longo caminho até à casa de banho pensei de mim para mim que a casa onde eu vivia cabia toda naquela sala. Olhei de soslaio para as caixas encostadas à parede da cozinha à espera que eu as arrumasse.
É impressionante como nos empacotamos com tanta facilidade. Eu sou a soma de 4 ou 5 caixas de livros, 2 caixas de postais antigos, cartas e fotografias, 4 caixas e alguns sacos grandes de roupa e mais umas 15 caixas marcadas com um enigmático “vários”.
Enquanto andava na cozinha a cirandar em busca de qualquer coisa para trincar ouvi barulho no piso de cima, não demorou muito a aparecer uma Madalena muito ensonada a cambalear pelas escadas a baixo.
-Então? - arrastou ela na voz de quem ainda estava meio a dormir – Dormiste bem?
Puxou uma cadeira e sentou-se com a cabeça apoiada nas mãos.
Dormi. Claro que dormi bem. Estava morta de cansaço e fui para a cama molinha, molinha do duche quente que tinha tomado. Nem me lembro do que sonhei, tão ferrada estava no sono.
Descobri um pacote de bolachas e fui-me sentar ao pé dela.
Ficámos ali, um bocado em silencio. Ela de boca fechada do sono e eu de boca cheia de bolachas.
A minha vida deu uma volta jeitosa neste mês.

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